Olho no fundo do zoio do moço e não consigo decifrar a coloração: ora azulados, ora acastanhados, ora a fitar-me, desconcertando-me. Ele tem desses olhares profundos que te despem a alma, aquele tipo de gente que te encara no fundo do grão do zoio. Ahh... e o sorriso? Perdição, lindo que só. Talvez, por isso, sempre desviei o olhar ao chão e fingi-me desentendida dos galanteios sempre tão sutis.
Eu o tive por quase 3 anos ao meu lado e nunca percebi que seu excesso de preocupação, seus olhares a vigiar meus passos, sua forma carinhosa de dizer “essa menina” eram mais do que amizade. Quando veio a declaração dos desejos sórdidos do moço, em março passado, atordoada que sou fugi. Aquela noção de certo e errado me impediu de arriscar. O moço foi embora e deixei o não dito pelo dito.
Ontem, não sei o que aconteceu. Vim para casa sentindo o vento gelado no rosto, como se assim eu acordasse do meu devaneio. Pensei foi descuido do moço que tocou seus lábios nos meus, mas a mensagem enviada por ele horas depois prova que o toque tênue foi intencional. Oiwnnn... foi um selinho tão bonitinho e juvenil, acompanhado de um frio na barriga medonho.
“Esse menino” do zoio colorido não carece de ir p céu não! A moça foge, mas até quando? Diacho de tormento!
“Dos lábios que me beijaram,
Dos braços que me abraçaram
Já não me lembro, nem sei...
São tantas as que me amaram!
São tantas as que eu amei!
Mas tu - que rude contraste!
Tu, que jamais me beijaste,
Tu, que jamais abracei,
Só tu, nestalma, ficaste,
De todas as que eu amei”.
(Pablo Setúbal)