terça-feira, 18 de julho de 2017

Moço do zoio colorido

Olho no fundo do zoio do moço e não consigo decifrar a coloração: ora azulados, ora acastanhados, ora a fitar-me, desconcertando-me. Ele tem desses olhares profundos que te despem a alma, aquele tipo de gente que te encara no fundo do grão do zoio. Ahh... e o sorriso? Perdição, lindo que só. Talvez, por isso, sempre desviei o olhar ao chão e fingi-me desentendida dos galanteios sempre tão sutis.
Eu o tive por quase 3 anos ao meu lado e nunca percebi que seu excesso de preocupação, seus olhares a vigiar meus passos, sua forma carinhosa de dizer “essa menina” eram mais do que amizade. Quando veio a declaração dos desejos sórdidos do moço, em março passado, atordoada que sou fugi. Aquela noção de certo e errado me impediu de arriscar. O moço foi embora e deixei o não dito pelo dito.
Ontem, não sei o que aconteceu. Vim para casa sentindo o vento gelado no rosto, como se assim eu acordasse do meu devaneio. Pensei foi descuido do moço que tocou seus lábios nos meus, mas a mensagem enviada por ele horas depois prova que o toque tênue foi intencional. Oiwnnn... foi um selinho tão bonitinho e juvenil, acompanhado de um frio na barriga medonho.
“Esse menino” do zoio colorido não carece de ir p céu não! A moça foge, mas até quando? Diacho de tormento!

Dos lábios que me beijaram,
Dos braços que me abraçaram 
Já não me lembro, nem sei... 
São tantas as que me amaram! 
São tantas as que eu amei! 

Mas tu - que rude contraste!  
Tu, que jamais me beijaste, 
Tu, que jamais abracei, 
Só tu, nestalma, ficaste, 
De todas as que eu amei. 


(Pablo Setúbal) 

sábado, 24 de setembro de 2016

Ainda sobre o moço barbudo!

Não paro de pensar no moço que me cobriu de chantilly e lambeu cada uma das minhas feridas abertas. A saliva foi como curativo para elas ainda tão dolorosas e cultivadas ao som de Chico Buarque. Como doença psicológica que se instala, lembro daquela barba roçando cada centímetro do meu corpo. O gelo derretendo, o óleo escorrendo, a trilha sonora ecoando na mente! Mas aí lembro das palavras e da "síndrome do amor-próprio" e desisto. Não posso voltar lá, perderei o rumo de casa, da vida, das dores, dos desamores. Finjo nunca ter existido tais momentos de suspiro e com isso evito toda e qualquer possibilidade de drama, de sofrimento, de desgosto. Anulo também as possibilidades de felicidade plena, de amor, de riso.
Volto para a minha zona de conforto que não me proporciona o melhor sexo, tampouco me arranca suspiros, afeto, amor. A zona de conforto cobre minhas costas enquanto durmo, acaricia meus cabelos enquanto me distraio com Netflix, fica encantado me ouvindo proferir os mais variados discursos, fica em brasa ao me tocar (pena que eu não consiga corresponder). Dá-me a segurança de não sentir nada além do peso de um corpo que não satisfaz minhas necessidades fisiológicas, que nunca me dará filhos, que nunca me dará entusiasmo para meter os pés pelas mãos e com isso me sentir viva. A racionalidade sobressai, não vejo possibilidade de futuro, empurro com a barriga. Ele duvida quando digo que nosso caso tem prazo de validade: -Só mais dois anos! sussurro baixinho. Ele ri e retruca: -Tu és adoravelmente pancadinha! 


Mirele Machado

sábado, 10 de setembro de 2016

Era uma vez, um moço barbudo!

Era uma vez, um moço lindo, com barba chamativa, adicionou-me a sua rede social fingindo me conhecer. Não demonstrei interesse, mas vigiei todos os seus passos virtuais. Um dia, hei de esbarrar nesse moço por aí. Quis tanto, mas tanto; que o destino trouxe o moço para mim.
O por aí aconteceu ao som de Raul Seixas. Vi o moço me olhando no canto do bar, coração disparou, disfarcei, fugi, olhei, desviei, olhei de novo. O moço veio e num descuido me enlaçou a cintura. Logo eu, a moça que não beija em público, estava ali atônita retribuindo o beijo.
Meus amigos o aprovaram e eu, em silêncio, também aprovei. Que sensação boa que eu não sentia desde o Lobo Mau e o PA. Aceitei o convite indecente, meio incrédula com o poder do pensamento que trouxe o moço para mim, assim, sem sacrifício.
Ai... suspiros tantos! Medos... muitos! O moço fala igualzinho ao finado Zé quando diz que serei dele e que não quer que eu o esqueça. Nessa hora, broxei. Um orgasmo sequer. O moço se esforçou, mas a semelhança do que ouvi estragou tudo. E como fala, socorro! O moço cobriu-me de óleo, massageou-me as costas, dormimos. 
O bom dia do moço barbudo foi encantador. Já era de tarde quando vim para casa flutuando, pisando em nuvens, com um sorriso largo de orelha a orelha. Que lembrança boa e cheirosa de se guardar! Então, são essas agradáveis e belíssimas surpresas que a vida me reservou? Suspiro fundo e deixo o rádio ligado e a lembrança esquecida. 

P.S: Recebi mensagens de madrugada o que me leva a crer que fomos vistos aos beijos! Já era, já foi, paciência! Eu avisei não querer mais notícias da tal "zona de conforto"!



Mirele Machado

segunda-feira, 20 de junho de 2016

O que fazer?

Às vezes, penso que nunca superarei esta saudade que sinto. Ainda dói como se tivesse sido ontem. E nisto sigo inventando desculpas para um não envolvimento, para um não romance.
Dia dos namorados saímos para jantar, fingi demência, ri, fiz-me desentendida da situação criada. Verdade, não sei o que fazer com os tantos corações colecionados. Exibi-los numa vitrine? Moço, por favor, não se apaixone! Avisei tantas vezes.
Ano passado, quase me entreguei. Por um momento, cogitei a hipótese de que pudesse me fazer bem. Mas, sabe, nunca entendi aquela coisa de dormirmos em quartos separados. Passado nosso final de semana em Porto Alegre, o qual amanhecemos juntos; pensei superado o trauma, fobia, ou seja lá o que for. Senti-me no filme 50 tons de cinza, porém sem chicote. Afastei-me, permiti o sumiço covarde.
Agora, voltas, com uma forma tão bonita de cuidar de mim: "envelopando-me" para dormir, acariciando meus cabelos até eu adormecer e amanhecendo ao meu lado. Diz que cuidar de mim é como cuidar dos seus filhos, porém eu sou extremamente mais teimosa.
Agosto se aproxima e meu provável casamento também, e com ele infinitas dúvidas, medos, dores, lágrimas. Essa sensação de perda de liberdade incomoda, fere, perturba. Desistir de véspera? Que caos sentimental é este que se instaurou? Moço, afasta-te, pois não sei como contar meus segredos.
Eu sei que tu não entendes como estou a um passo do altar sem estar apaixonada. O que diferencia meu futuro esposo dos demais é que ele me aceita impura, sem jurar amor eterno, sem fingir sentimentos, entende? Ele permite que meu coração seja um pouco teu também! Que outro amor na vida permitiria tal desatino? 
Guarde-me nas tuas mais lindas lembranças! Despeço-me sem drama, sem beijo na despedida, cortando o laço, desatando o nó, apagando os rastros. Obrigada, de coração, pela companhia, pelo carinho, pela dedicação. Carregarei-te em minhas preces, faço votos de que encontre alguém que saiba corresponder afeto. 

Mirele Machado





terça-feira, 17 de maio de 2016

E não é só da assimetria do sorriso que o moço fala: -"Monocova".
Ele acha lindo o pé 34 mais feio do mundo, mas não consegue pôr meus brincos na escrivaninha.
O moço tem uma forma estranha de dizer que me ama, diz que me ama no extremo da possessão enquanto vertem lágrimas.
Aos poucos, o moço me afasta do convívio social.
Diz que o sonho dele é me colocar numa redoma de vidro!
O moço é devoto a mim, diz que durará para sempre.
Quem decide do tempo é você e a morte, afirma!
E eu?
Eu vivo o hoje, o agora, o presente. Não é por mal, mas eu sou tão desligada.
Desculpa pelas vezes que esqueci nosso aniversário de namoro.
Ainda bem que comemoramos em datas diferentes, você 19 e eu 20.
Até porque ninguém mais desconfia da existência dos meus 3 tipos de hoje, quem dirá de todas as mil caretas que faço enquanto converso.
É, o moço tem razão, eu esqueço das datas; não das brigas.
As moças dizem que tenho sorte, mas é carma não conseguir me desvencilhar de um moço assim.
Sempre questiono os motivos dele não me abandonar, mesmo sabendo da minha loucura.
Ele responde que a vida dele era mais tranquila antes de mim, mas que nunca foi tão divertida e feliz.
-Amor, tu és tão caduca e é tão divertido conviver contigo!
-Estás me chamando de palhaça? Não permito que se divirta às minhas custas! Rummmm! - retruco às gargalhadas!
Desculpa por não conseguir proferir "eu te amo" no final das ligações, quando estou em público. Só consigo balbuciar um "eu também". Não sei se peço desculpas pelas ásperas palavras ditas, pelo silêncio teimoso, pela falta de insistência, pelo ciúme ao extremo, pelas brigas tolas. 
É... Eu não levo jeito com essas coisas do coração.
Moço, obrigada pelo drama, pelas lembranças e até pelas dores!

Desejo-te sorte, pois não há como eu desejar o mal para quem tentou (apesar de falhar) me fazer bem.

P.S: Sei que o tempo verbal está errado, mas não sei conjugar o verbo te amar no pretérito.

sábado, 7 de maio de 2016

O que espera que eu faça?



Será que te afetei ao contar que casarei novamente? Teu semblante inexpressivo nunca me permite interpretações. Disseste tanta coisa, deixaste margem para que a dúvida pairasse e tomasse conta de mim. Nunca retomaremos aquela conversa.
Não perguntes, nunca saberás; nem eu sei. Pensava ser indiferente. Mas, hoje, deu uma fisgada no peito, senti-me desnorteada. És lindo, mas tão carregado de preconceito. É só medo ou nos arrependemos das tolices escritas? 
Já passou, já foi, findou (espero eu). Nunca saberemos daquilo que poderia ter sido e não foi. É muito impedimento para pouco sentimento. 


Mirele Machado